“Gamar é arte e amor em excesso”. É o que diz o lema do Grupo de Arte Maria Aragão, projeto desenvolvido pelo educador Wilson Chagas, gestor do Centro de Ensino Maria José Aragão, localizado na Cidade Operária, na capital Maranhense, e que tem oportunizado a estudantes daquela área formas de escapar da vulnerabilidade social através do teatro e da dança.
Wilson Chagas conta que o ‘Gamar’ nasceu de um desdobramento positivo do Projeto de Leitura e Escrita ‘Palavras ao vento’, que acontece todos os anos no Centro de Ensino, tendo como produto final um Festival de Poesias onde os estudantes têm a possibilidade de expressar suas ideias e seus sentimentos. As apresentações do Festival de Poesias tiveram início no final dos anos de 1990 e logo começaram a ganhar visibilidade entre a comunidade do bairro.
“Desse festival de poesias nós começamos a receber convites para apresentar o projeto em outras instituições e daí veio a necessidade de se dar um nome ao Grupo. E veio então Gamar, que além de significar Grupo de Arte Maria José Aragão, também é um verbo que denota paixão, denota amor em excesso. Não à toa o lema do grupo é: ‘Gamar é arte e amor em excesso’”, explica Wilson Chagas.
A partir daí, Wilson Chagas percebeu que tinha em mãos uma importante ferramenta de transformação de vidas e uma forma concreta de afastar seus estudantes do mundo das drogas e da marginalidade.
Os ensaios acontecem sempre no pátio central do Maria José Aragão e em 18 anos de existência, o Projeto Gamar já encenou dezenas de espetáculos que exaltam, principalmente, a cultura maranhense, mas sem deixar de lembrar também, autores nacionais e internacionais.
Faz parte do catálogo de montagens do Grupo obras como: ‘Sonho de uma noite de verão’, de William Shakespeare, apresentação essa que rendeu ao Gamar o 1º lugar no Festival de Teatro Estudantil, em 2002; ‘Um roubo no Olimpo’, de Arthur Azevedo; ‘O Desejo de Catirina’, onde consagraram-se novamente vencedores no Festival de Teatro Estudantil, em 2015; ‘Baião de Seis’, espetáculo de danças populares nordestinas; ‘O Livro Mágico’, ‘Tonico e Florzinha’ e ‘Três Gotas de Poesia’, espetáculos voltados ao público infantil; entre tantos outros.
Ao longo de quase duas décadas, o Gamar já recebeu e oportunizou contato com as artes a cerca de 4.500 estudantes, entre crianças, adolescentes e jovens, não apenas do Centro de Ensino, mas de outras escolas das redes públicas estadual e municipal da região da Cidade Operária.
Trajetória de vida
“Nessa trajetória nós já tivemos muitas conquistas, principalmente no sentido de possibilitar a esses meninos e meninas, um futuro melhor, saindo da situação de vulnerabilidade social extrema para uma vida mais humana, mais saudável, onde eles são protagonistas da sua própria história”, complementa o gestor Wilson.
É com emoção e orgulho que Wilson Chagas fala que o Gamar já ajudou a transformar a vida desses milhares de estudantes que, por meio da dança, teatro, música e pintura, encontraram um novo caminho.
“A partir desse chão [do CE Maria José Aragão], meninos e meninas têm suas histórias de vida transformadas a partir do contato com a arte, vale citar aqui os casos de vários alunos e alunas, ex-alunos e ex-alunas, que hoje estão nas universidades ou já estão trabalhando no ramo das artes, porque viveram isso aqui na escola, através do Gamar”, diz Wilson.
Histórias como a de Carlos Eduardo Pinto Costa, ex-aluno do Maria José Aragão e que hoje é professor de Língua Portuguesa da rede pública estadual, que conta que o Gamar foi um verdadeiro divisor de águas em sua trajetória estudantil e o preparou para a vida para além dos muros da escola.
“Foi a partir do Gamar que eu pude abrir a minha mente para o mundo e com o auxílio do Wilson que, sem dúvidas, foi uma ferramenta muito grande na nossa transformação social. Hoje eu posso dizer que a minha vida se resume em um pré e um pós-Gamar, porque foi a partir daí que eu pude perceber que a vida é bem maior do que apenas na nossa comunidade”, revelou Carlos Eduardo.
“Se hoje em dia eu tenho uma referência de educador, sem dúvidas é o professor Wilson Chagas e eu tento ser para os meus alunos pelo menos 10% do que ele foi pra mim. Se eu tiver que fazer uma analogia muito próxima do professor Wilson Chagas sem cometer nenhuma heresia, pra mim, ele é tal qual foi Moisés, na Bíblia Sagrada, porque ele foi alguém que chegou e com o seu cajado, com a força de Deus, abriu o mar para que nós passássemos e pudéssemos sair da condição de pessoas mais ignorantes. Foi um caminho novo pra gente, uma sabedoria nova construída e eu devo muito a ele por isso”, complementou o professor.
A participação no Gamar também mudou a forma da jovem Kelly Azevedo Moura de se relacionar com as outras pessoas e despertou nela a vontade de cursar a faculdade de Teatro. Kelly já está no cursando o 5º período da graduação na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). “Eu sempre gostei muito do teatro e, a partir do momento que eu entrei no Gamar, eu me encantei com o mundo que ele [grupo], e de certa forma que Wilson, me ofereceram”, explica a jovem que terminou o Ensino Médio em 2013, mas não consegue ficar muito distante das atividades do Grupo.
“O Gamar nos permitiu sonhar, a gente fica adulto e tem que ir em busca dos nossos sonhos e foi isso que aconteceu, tive que me afastar um pouco, porque eu resolvi ir em busca dos meus sonhos. Eu espero que o Wilson continue fazendo sempre isso, porque ele muda a vida de muitas pessoas assim como mudou a minha também. A gente vive em bairros onde a violência é muito grande e ele faz questão de nos tirar dali nos apresentando a arte, o teatro, a música, a dança, enfim tudo”, conclui Kelly Moura.
Fonte: Seduc
Texto: Letícia Pinheiro
Fotos: Divulgação
20/10/2019
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