7/05/2021 11:51 pm

Jovem de 23 anos, ex-estudante de escola pública do Maranhão, é aprovada em doutorado na UFPE

Taluany Nascimento – escavação em campo de Paleontologia no Estado de Minas Gerais

A trajetória educacional de Taluany Nascimento, ex-estudante do Centro de Ensino Graça Aranha – escola pública da rede estadual do Maranhão -, é digna de honraria. Com apenas 23 anos de idade, é mestre em Biodiversidade, Ecologia e Conservação pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e acaba de ser aprovada no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Geociências, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Um currículo invejável conquistado por alguém tão jovem. Para alcançar esse feito, Taluany percorreu um longo caminho.

“Investir em educação é construir a base para o crescimento social, cultural e econômico de um país. O ensino público está presente em minha vida desde meus primeiros passos no ambiente escolar e, certamente, eu não estaria onde estou se não fosse o acesso ao ensino público”, disse Taluany.

Taluany Nascimento é de origem humilde e nasceu no município de Imperatriz, em outubro de 1997, sendo a primeira de três filhas do casal Teófilo Silva do Nascimento (46 anos) e Valdycleia Araújo Silva (44 anos). Quando completou um ano de idade, foi morar no Assentamento Alvorada II – Lagoa, uma associação na zona rural no município de Amarante do Maranhão. Na cidade, estudou na Escola Municipal Nova Esperança, onde foi alfabetizada e cursou até o 4º ano do ensino fundamental.

Em seguida, Taluany retornou para Imperatriz e foi morar com a sua tia Alzenir. A sua trajetória educacional continuou na Escola Municipal Santa Cruz (5º ano) e no Centro de Ensino Delahê Fiquene, do 6º ano 9º ano. Durante esse período, foi muito incentivada a estudar e seguir para um curso de graduação, onde conseguiu acompanhar os esforços de seus primos, que já estavam ingressando no ensino superior.

Em 2011, foi morar com a mãe e uma irmã na cidade de Davinópolis, a 12km de Imperatriz, e ingressou no Centro de Ensino Graça Aranha, onde estudou até 2013. Nesse período, fez provas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares tradicionais da Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e UFT. No ano de 2014, foi aprovada no vestibular da UFT no Curso de Ciências Biológicas (Licenciatura) e passou a morar na cidade de Porto Nacional, no Tocantins. Formou-se em fevereiro de 2019 e em março ingressou no mestrado na área de Biodiversidade da mesma instituição.

“Durante a graduação e pós-graduação, meus trabalhos foram voltados para a Paleobotânica, área da ciência que estuda as plantas fósseis. Viajei para participar de eventos científicos e trabalhos de campo. Envolvi-me em diversos projetos de pesquisa nas áreas de educação ambiental e paleontologia. Participei de feiras científicas e eventos culturais da cidade, expondo meus trabalhos, e atuei em diversas escolas municipais e estaduais de Porto Nacional, por meio de estágios e projetos de extensão. Com esse contato, pude perceber o papel social da universidade e o quanto a ciência se faz necessária dentro dos espaços comunitários”, destacou Taluany.

A aprovação no curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Geociências, da UFPE abre novos caminhos para a Taluany, que reconhece a importância dos estudos em sua vida. “Vou desenvolver a minha tese com base no estudo de folhas fósseis provenientes da Antártica, vinculada ao Projeto Florantar (OPERANTAR 38). A Universidade é um lugar de trocas, onde você vai conviver com pessoas de diferentes localidades, culturas e pensamentos. Esse contato é enriquecedor e promove uma nova forma de ver o mundo, e isso foi o que me motivou a continuar na carreira acadêmica”, expressou.

Durante os estudos acadêmicos, Taluany contou com a orientação de excelentes profissionais e não esquece os ensinamentos que recebeu no período em que esteve ao lado de professores e pesquisadores que a ajudaram na busca de novos conhecimentos, mesmo levando em conta um cenário desfavorável de incentivo à pesquisa enfrentado nos últimos anos. Lembrou ainda do apoio recebido da família até hoje.

“Sempre pude contar com pesquisadores e professores excelentes. Vi a força inspiradora de mulheres, mães e cientistas atuando de forma excepcional nos espaços acadêmicos. Mesmo com as atitudes de desmonte da pesquisa científica no Brasil, esses profissionais se mantêm firmes e levantam novos pesquisadores a cada dia. A minha permanência na graduação e pós-graduação deve-se também ao apoio e suporte familiar”, contou.

Taluany Nascimento foi bolsista na graduação (Capes e bolsa de projetos de extensão da UFT) e durante o mestrado (Bolsa Capes). Ela sabe como é difícil suprir as necessidades de moradia e alimentação apenas com o valor da bolsa. “O bolsista não pode ter vínculo empregatício, precisa dedicar-se integralmente às atividades ligadas à bolsa e comprovar todas essas atividades com relatórios e produção científica satisfatória; caso contrário, o valor recebido deve ser devolvido. Há casos de alunos que precisam e não recebem, pois a quantidade de bolsas disponíveis é desproporcional à demanda. Irei agora ingressar no doutorado sem perspectivas de receber bolsa”, ressaltou.

Em meio às dificuldades para manter os estudos, muitos precisam recorrer a atividades informais para a complementação da renda, passando por situações adversas, principalmente quem pertence à família de baixa renda, como Taluany. A estudante defendeu melhorias nas políticas de incentivo à Educação.

“É necessário que haja reajustes e melhorias nas políticas de acesso a auxílios e ações de assistência estudantil das universidades. O conhecimento científico é válido e necessário, podemos ver as universidades e instituições públicas de nosso país à frente de pesquisas acerca da Covid-19, e mesmo assim, em meio a toda essa situação, há uma onda de negacionismo científico no Brasil. As pesquisas estão sendo desvalorizadas e isso é grave”, exprimiu.

As dificuldades enfrentadas por Taluany Nascimento ao longo de sua vida não tiraram a esperança por dias melhores, e deixou um recado para as pessoas que lutam para a realização de seus sonhos.

“Mesmo com a crescente desvalorização dos programas de acesso ao ensino superior, quero dizer que não desistam. Como filha de uma professora do ensino básico e de um trabalhador rural sem escolaridade, digo também que o filho do porteiro, a filha da empregada doméstica, os jovens de baixa renda vão, sim, ingressar no ensino superior, ser mestres e doutores. Vamos resistir aos constantes ataques a universidades públicas, ter uma boa formação e fazer ciência de qualidade”, finalizou.

Fonte: Seduc
Foto: Divulgação
07/05/2021

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